quarta-feira, 26 de agosto de 2009

MEDO

Desde criança somos ensinados a sentir medo de tudo que nos rodeia, medo da Cuca, dos estranhos, do homem do saco....

Ali começa a se instalar em nós a crença de que o desconhecido contém algo terrível e assustador.

Somos ensinados a trancar todas as portas, evitar locais escuros e desconfiar das intenções até dos amigos.

Ouvimos estórias tenebrosas de fantasmas, monstros, mulas-sem-cabeça. Assistimos filmes de terror e noticiários sangrentos.

Aprendemos a sentir medo até de Deus que parece estar sempre à espreita para nos castigar assim que cometemos algum pecado. E para fazer de Deus uma imagem ainda mais assustadora, nos é ensinado que prazer é pecado, que Deus quer homens e mulheres perfeitamente controlados e sem desejos. Vamos aprendendo a sentir medo também daquilo que é bom.

Nos tornamos assim, adultos neuróticos com medos inconfessáveis. Medo de abrir portas, de olhar pelas janelas, de dormir no escuro, de tábuas estalando, do vento batendo uma janela.

Não confiamos em ninguém e, quando confiamos e somos enganados sofremos mais ainda, porque sentimos que nossos medos foram confirmados.

O medo nos mantém presos por toda vida. Medo de ser feliz, de tomar decisões, de apostar no futuro. Medo de fracassar, por isso não tentamos. Medo de errar, por isso não acertamos. Medo de adoecer, por isso não tomamos chuva. Medo de sofrer, por isso não amamos. Medo de morrer, por isso não vivemos.

Aos que crêem na vida após a morte, o medo toma outras proporções, pois temos medo dos espíritos que encontrarmos. Imaginamos seres de aparência assustadora e temos medo do mal que eles certamente farão a nós. Não pensamos no bem que podemos fazer a eles, pois não fazemos bem algum por causa do medo de decidir e errar.

Podemos inverter esses valores se passarmos a cultivar o sentimento oposto ao medo, e esse é o amor. É amor que faz a coragem, cujo significado é "com o coração".

O medo estaciona, mas o amor é movimento, é um impulso para novas descobertas, planos e esperanças.

Amar é saber que o inimaginável atrás da porta pode também ser um acontecimento muito feliz. E que é muito melhor abrir a porta e descobrir o que está do outro lado do que deixar a porta fechada e ficar só com o medo.
Amar é se abrir para todas as possibilidades.

Vamos abrir nossas portas e dar passagem ao que vier.

Isso é viver a vida intensamente.

ZANTINA

“Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.”
(Oswaldo Montenegro)

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